WEB 2.0: SUAS MUDANÇAS E CAUSAS

Autor: Diogo de Souza e Silva.
 

Antes de entrar de fato no tema deste texto seria interessante discutir a evolução da participação do “usuário comum” no uso da Internet, para isto deve-se esclarecer que nos primórdios da popularização da rede, durante o período de tempo compreendido entre os anos 90 até 2000, algumas empresas começaram a entender a Internet como um simples canal voltado para vendas e comércio, tais empresas entendiam que a Internet acabou se caracterizando como sendo um marco para a ascensão de uma nova economia capitalista, foi a partir deste ponto que surgiram as chamadas “empresas ponto com”. Estas empresas, muitas vezes iniciantes, se aproveitavam do sucesso e popularização da Internet para criar seus negócios baseados no conceito de comercio eletrônico, esta associação por sua vez fazia com que o valor da empresa disparasse no mercado de ações trazendo lucro e retorno fácil para seus criadores, apenas pelo fato de que o nome da empresa estava vinculado a negócios pela Internet. O resultado deste comportamento foi basicamente transformar a Internet em um verdadeiro estande de vendas, o que se comercializava e como se comercializava não importava, o objetivo das empresas era aumentar seu capital através da associação de seu nome com o termo “ponto com”. 
Perceba que este cenário não dava espaço para que o usuário comum falasse, a Internet apesar de se basear em conectar pessoas não dava a liberdade de interação, apenas as empresas ofertavam e divulgavam sua mensagem neste meio, onde o receptor destas mensagens apenas consumia o conteúdo criado. Pois bem, a Web 2.0 foi uma mudança de foco na forma de relacionamento dentro deste meio, a Internet passa ao não ser mais vista como um centro de comércio e começa a ser entendida como uma plataforma para se trocar conteúdos, se relacionar e interagir com outras pessoas. É o que sustenta Sampaio (2007; p.8), quando diz que a partir da Web 2.0 “Começou uma percepção de que os Websites deveriam se integrar, deixando de ser estandes e passando a trocar conteúdo.”
A nova lei que passou a imperar sobre a Internet foi a “troca de conteúdo”, perceba que a partir da palavra troca se subentende que ela estabelece um efeito de ação e reação, pois em uma relação de troca, quando eu oferto algo espero receber algum tipo de retorno, ou seja, quando faço a ação de oferta espero ter uma reação igual ou equivalente a ação que desempenhei. É fácil perceber então que o que passou a ter o foco foi a possibilidade de interação, e é nesta relação que surge a base da Internet moderna,
Spyer (2009, p.28) dá seu parecer em relação ao termo Web 2.0:

Defensores do termo Web 2.0 dizem que ele identifica sites de networking social, ferramentas de comunicação, wikis e etiquetagem eletrônica (tags), baseados na colaboração e que entendem que a natureza da rede é orgânica, social e emergente. [...] Em sua origem ele (o termo Web 2.0) deveria distinguir sites ou aplicativos com baixo custo de desenvolvimento, em que o conteúdo surge de baixo para cima a partir do relacionamento entre participantes, e que pode combinar as soluções e o conteúdo de mais de um site para produzir uma experiência integrada - o que no jargão tech se convencionou chamar de mashup.

Para uma explicação melhor sobre a percepção do autor deve-se esclarecer o termo “mashup”, Spyer (2009) usa este termo quando se refere a visão de uma experiência integrada na Internet, levando em conta a participação do usuário e o auxílio da combinação de vários sites para o desenvolvimento de conteúdo, este entendimento demonstra a característica de uma relação através da Internet, onde tem-se diversos elementos participando de um mesmo processo, e desta maneira se configura uma situação onde um usuário interage com diversas informações e conceitos distintos, porém que fazem parte de uma mesma experiência na web. A ideia de que são as relações interativas que moldam a Internet moderna fica mais forte. Sampaio (2007, p.10) define:
Um mashup é um website ou aplicação que combina conteúdo de mais de uma fonte em uma experiência integrada. [...] Uma aplicação mashup reúne conteúdo e serviços de fontes diversas, utilizando APIs (Interface de Programação de Aplicações) e técnicas padrões de mercado a fim de criar uma nova visão para o usuário.
Se por um lado agora se tem a resposta sobre o que a Web 2.0 realmente foi, e o que de fato mudou com ela, por outro lado fica a dúvida, por que esta mudança ocorreu? E a resposta é bem simples, é por que as pessoas buscam formas de se manter ocupadas e entretidas. Shirky (2011, p.8 - p.16), se apoia no que é chamado por ele de “excedente cognitivo”, onde de acordo com o autor a evolução industrial, social e tecnológica afetou o estilo de vida das pessoas, com os avanços da medicina as pessoas vivem mais, e através da industrialização e tecnologias as pessoas economizam mais tempo em suas vidas, sendo assim o resultado desta equação não poderia ser diferente, com mais tempo e vivendo mais as pessoas possuem um maior tempo livre, gerando um excedente cognitivo, ou seja, as pessoas tendem a buscar formas para ocupar a mente durante este tempo.
De acordo com Shirky (2011, p.8 - p.16) as sociedades mais antigas acharam a resposta para preencher seu “excedente cognitivo” através do aparelho de TV, grande parte do tempo as pessoas gastavam vendo TV como se fosse uma obrigação, isto gerou consequências negativas, e o que foi mais afetado foi o contato social, as pessoas passaram a se socializavam menos e não procuravam outras diversões.
Porém o que se vê hoje é que a humanidade está alocando seu “excedente cognitivo” em outra mídia, a Internet, que permite a socialização, o compartilhamento e ao mesmo tempo a diversão, as pessoas podem simplesmente decidir conversar com os amigos, bater um papo, compartilhar uma música (ao invés de apenas ouvi-la), compartilhar um vídeo (ao invés de apenas assisti-lo), e as somas destes compartilhamentos e interações criam um ambiente cada vez mais poderoso, o que atrai por consequência um contingente cada vez maior de pessoas, que param de assistir TV e começam a compartilhar na Web. Shirky (2011, p.15), a respeito do comportamento dos jovens influenciados pela Internet, afirma:

Mesmo quando assistem um vídeo online aparentemente uma mera variação da TV, eles têm oportunidades de comentar o material, compartilha-lo com os amigos, rotulá-lo, avalia-lo ou classifica-lo, e é claro discuti-lo com outros espectadores por todo o mundo. 
         
Mas, além do excedente cognitivo, o que mais motiva as pessoas a quererem interagir em um mundo online? Ou melhor, quais são os efeitos que levaram a Internet a se tornar um ambiente colaborativo? Spyer (2007, p.36) responde estas questões quando define “os estímulos que levam as pessoas a participar de comunidades”, onde o autor leva em conta alguns fatores que motivam as pessoas a colaborarem com a troca de conteúdo online, dentre estes fatores pode-se destacar a “reciprocidade” que estabelece que uma pessoa ao disponibilizar algum conteúdo tem a percepção de que será recompensada no futuro, o “prestigio” também é um fator definido pelo autor pois para ser reconhecido e respeitado em algum grupo social o indivíduo busca disponibilizar informações de qualidade e um conteúdo relevante na web, o “incentivo social” leva em conta o vínculo da pessoa com determinado grupo e a colaboração e disponibilização de conteúdo podem levar a expansão destes vínculos, e por último o “incentivo moral” destacando que a satisfação de colaborar estimula o indivíduo a disponibilizar cada vez mais conteúdo, este fator leva em conta a característica de custo zero e facilidade no compartilhamento e disponibilização de conteúdo online como impulsionadores deste incentivo.
Desta forma pode-se dizer que o efeito colaborativo da web é motivado pelos fatores: reciprocidade, prestígio, incentivo social e incentivo moral, e que de forma integrada com o “excedente cognitivo”, defendido por Shirky, sustentam a cultura da Internet nos dias atuais.
Ainda especulando um pouco a respeito do novo posicionamento do usuário frente a Internet Sampaio (2007, p.9) por fim afirma “As pessoas se cansaram da visão comercial da Web e retornaram às origens, buscando gerar novos conteúdos [...]”, porém como visto este não foi o único fator que marcou a ascensão da nova web, o excedente cognitivo descrito por Shirky (2011) levou as pessoas a modificarem seu comportamento e em consequência sua visão e forma de enxergarem o mundo e suas oportunidades, e também os estímulos individuais descritos por Spyer (2007), inerentes as pessoas, motivam cada vez mais a busca por interação e compartilhamento na rede. Como pode ser visto a mudança de foco foi apenas a ponta do Iceberg, pois as necessidades latentes de preencher seu tempo livre, e as características intrínsecas na comunicação humana, que levam as pessoas a compartilhar e não apenas consumir, acentuaram a formação de uma nova cultura, um novo estilo de vida e principalmente uma nova forma de se comunicar e compartilhar o mundo.
O fenômeno Web 2.0 não representa uma evolução tecnológica, ele simplesmente simboliza uma mudança de foco que passou a modificar os relacionamentos e interações online, gerando gradativamente novos meios e funcionalidades que acentuaram cada vez mais a necessidade de uma comunicação dinâmica através da Internet.

REFERÊNCIAS:

SAMPAIO, Cleuton. Web 2.0 e Mashups: Reinventando a Internet. Rio de Janeiro: Brasport. 2007.

SHIRKY. C. A cultura da participação: Criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

SPYER, J. Para entender à Internet – Noção pratica e desafios da Comunicação em rede. Rio de Janeiro: Saraiva, 2009.



Se gosta de conteúdos relacionados a Internet, dá uma olhadinha nessa outra postagem clicando aqui.

Comentários

Postagens mais visitadas